Panis et Nonsenses... !!!

Divagações, momentos, memórias, delongueadas, poulaineadas, patetices, cinismo, teses de sentido e validade duvidosos, jedaizices, incoerências ambíguas e sem lógica, e supercalifragilistiexpiralidosações em geral! Ou seja, eu... eu acho!!! Constante inconstância exclamativo-interrogativa... acho que isso diz muito e pouco, dependendo da ótica

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Não creio que esse perfil mereça algum esforço de boa descrição... Não que este daqui mereça, mas: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=995235312369024623

Saturday, November 10, 2007

El olvido, o sincrônico, e o homem Iluminado

Eu deveria estar escrevendo um trabalho teórico de montagem, ou arrumando três malditos roteiros - na verdade, só dois deles são realmente malditos, ou por si mesmo e outro pela temática -, ou ainda arrumando uma pequena baguncinha (e, para um virginiano, isso não é pouco). Mas vim aqui escrever. "Me lamento", é o que deu vontade, vamos lá.

O post da semana passada foi um dos mais vazios que já mandei para cá - e por vazio não leia-se vago, porque tentar construir o denso dentro do vago é muito gostoso - mas essa sincronicidade que ocorreu... caramba! Juro que tudo me foi desperto pela simples animação da TV, depois vim a saber da balbúrdia em torno da biografia do Schulz (como disse, na pesquisa rápida, só li algo pequeno sobre a "mulherengagem" do dito cujo), justamente incriminando minha parcial e crua visão do homem bom!


Quem diria!!! Meu taco sensitivo é um auto-sinuqueador, no fechar das somas.
Também, não boto a cara a tapa (e não que tenha posto por ele, conforme o dito era um sentimento, uma vontade projetada) por mais ninguém. Nem por mim mesmo.
Não acho que possa ser um homem bom. Nesse rumo fico estagnado no nível do idiota patético mesmo. Que pode ser, na melhor das hipóteses, um homem bonzinho café-com-leite. Bem, paciência.

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"27. Yo no hablo de venganzas ni de perdones; el olvido es la única venganza y el único perdón."
Jorge Luis Borges, Fragmentos de um Evangelho Apócrifo em 'Elogío de la Sombra'

"Sólo una cosa no hay. Es el olvido." J.L. Borges

Esquecimento. Iván Isquierdo fala-nos clinicamente de como seria insuportável a nossa vida, se não esquecêssemos. Cita o mesmo Borges que aqui venero mais uma vez, aquele continho do "Ficciones" sobre o homem que nunca se esqueceu de nada e, com isso, se consumiu e morreu.
Parece-me que os meus sentimentos mais intensos são ligados a memórias. E não necessariamente as que vivi, ou que vivi mas não são situações propriamente ditas; esquemas estáticos, ordenamentos de mundo.
O que descubro, cada vez mais afirmativo (será isso falta de Omega 3?), é que o esquecimento não é pura e cartesianamente factual. O esquecimento, pensando na primeira frase de Borges, é uma descamação emocional, sentimental. Os fatos podem se perder, ficam os rastros. O que me assombra é a deformação desses rastros. Situações que certamente não perderão seu frescor e brilho por 50 anos certamente haverão, mas são a minoria, os pequenos grãos que conservam tanta felicidade de existência, talvez relacionáveis ou a mesma coisa que os cristais do tempo aos quais Gilles Deleuze se refere (aplicando incrivelmente os conceitos a Visconti e Fellini; veja "Amarcord"!), se diluem. Pequenos momentos de emoções muito determinadas, atos subsequentes tão intimamente ligados e únicos... Sim, creio que eles tendem a se uniformizar, a perder seus arestamentos próprios, mais ou menos homogêneos. Um punhado de eventos pontuais com suas idiossincrasias sentimentais e perceptuais borradas, um 'blur' na parte mais importante desse negativo que poderia recuperar um sorriso contido e um brilho de vista. Vai a poesia, resta o prefácio e a página com os copyrights, tiragem e números da Biblioteca Nacional.

Aplicado a um caso mais atual, de extremo impacto, penso um pouco nisso aplicado... A dor de um esquecimento que, desconfio com força consideravelmente preocupante, unidirecional. O que não esquece sofre o dobro pela outra parte que esqueceu, para tentar concretizar.
Não acho que descamarei essa. Nesse caso, uma pena.
Uma pena? Puxa, e que pena!
Memória, como quase tudo, dói. Afinal, como lembra-nos o caro mestre ali acima, no hay olvido. É tudo o que há, tem mesmo é que dar alegria e doer.
Retomando uma velha linha pessoal e do blog, doendo também alegra a seu modo, porque parte da dor é melancolia feliz. Só pelo haver, e pela força. Eu juro, é verdade, os fracos prezam essas presenças fortes, machucando ou não.

* * *

Samba del Olvido - Jorge Drexler y Joaquin Sabina (Recomendo muito, ouça!)

Olvídame, esta zamba te lo pide. Te pide mi corazón que no me olvides, que no me olvides. Deja el recuerdo caer como un fruto por su peso. Yo sé bien que no hay olvido que pueda más que tus besos. Yo digo que el tiempo borra la huella de una mirada, mi zamba disse "no hay huella que dure más en el alma'. Te pide mi corazón, que no me olvides, que no me olvides.

* * *

Stanley Kubrick me perseguiu essa semana. Sim, o Kubrick mesmo, não foi nem o Jack Nicholson com o machado na mão.
Pensava nele no começo, como conseguira ser tão genialmente -técnica aplicada e teórica- múltiplo, criativo, com algum apelo comercial, etc etcs. Repentinamente, descubro que a Cult desse mês publica um dossiê sobre o bendito. Ok, tudo bem...
Na aula de som, um dos grupos leva como exemplo uma cena de "Shining"! Por sinal, em VHS, saudades... conheci esse filme no tempo do VHS!
Minha cara pessoa, me mostre um filme de suspense inteligente melhor que esse e eu te pago uma mousse de chocolate! Não tem outro, simplesmente não tem!!!
E, no dia seguinte, indo para o badejão (entre os piores que já comi na minha vida, carne amarga; depois reclamam que eu não como muito lá), vejo duas meninas com camisetas do "Laranja Mecânica"! Sério, uma passou por mim na sempre amena como a caatinga Praça do Relógio, e em seguida uma segunda próxima ao Museu de Arte Contemporânea.

E, incrível, é britânico que morou muito tempo nos Eua, e não perdeu meu respeito por isso! :D Ê, chatice... mas quem pode evitar, dada a massaroca que é aquela gente?


Schulz, Kubrick... quem será o próximo que me assolará na próxima semana?! Só espero que nenhum professor, porque esse grande semestre que vem desde fevereiro já encheu faz tempo!

Ciao!

Sunday, November 04, 2007

Charlie Schulz, my pal! (É uma rima, OK?)

Ontem, pela manhã, peguei uma sulfite branca e comecei, inedito, a escrever esse post em 'suporte físico', como diria meu professor de fotografia. Ficou grande grande grande, digressivo e emocional demais. Vou direto para a segunda parte, que tem tatos um pouco mais realizados e menos contemplativos.

Na parte que cai, basicamente, eu topei por um grande acaso com um desenho dos Peanuts passando na televisão, ouvi o jazzinho e fui à sala conferir o que viam. E, por coincidência, horas antes pensara uns tantos no Charlie Brown, um personagem com o qual me identifico em muitos momentos (loser's odissey). Era um episódio um tanto triste, Snoopy partia (e voltava depois, claro!) e divaguei muito sobre isso enquanto via. Bem, é isso, as divagações são vergonhosas demais, vou digitar a parte mais lúcida.


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Mas, sufocado numa emersão, penso no Sr. Schulz. Sabe-se que dezenas de criadores que, após o sucesso e consolidação de um universo criado, vêem (esse acento no 'e' será extinto, devem saber... dane-se, vou continaur a usá-lo!) que não perdem grana - aliás, ganham mais no tempo livre - ao repassar as diretrizes para roteiristas e desnehistas, montam uma sala cheia de gente para ficar sozinho na sua própria, fazendo outras coisas que não produzir. Compreensível em casos como o Mauricio de Souza, como criar 30 gibi por mês por 40 anos, cara pálida?! Mas há os sacanas. O Bill Waterson não era, e parou em 96, quando não aguentava mais a pressão para entregar Calvin&Hobbes.

Volto ao Sr. Schulz. Por mais de 50 anos, ele se sentou todo dia na prancheta e fez uma tira. Uma caneta para desenho, uma de ponta grossa para os berros da Patty Pimentinha, uma para os cotornos dos quadros. Não era um purista, era um homem simples, um homem bom.

Fez isso todo dia, parando pouco antes de morrer, o câncer (de intestino, se me lembro bem) o ocupava bastante nessa altura do campeonato; já ganho, por ele.

Escrevi tudo isso, tudo isso, por causa do homem bom. Charlie M. Schulz me parece um homem bom. E é uma imbecilidade pensar assim; Groucho Marx parece um homem fantástico, mas gostava muito de humilhar as esposas publicamente e foi um péssimo pai. Não vale a pena citar o número de músicos, pintores, cineastas que não valiam o próprio vomito de sarjeta, como cidadãos ou familiar, mas ampliaram meus horizontes com sua criação, me fizeram feliz.

O ponto não é discutir as secretas vicissitudes entre criadores e criaturas, os mitos e os homens que os embasam. Isso nunca vai ser resolvido, e pode ser até muito chato, apesar de belo e intrigante. O que me vem é: não sei sobre a vida do Charles, só a do que ele criou. Posso imaginar o bendito erroneamente, um velhinho bom pai de família, numa casa simples e simpática, plantando margaridas e tomando licor. E, sim, é uma fraqueza pessoal pensar nesse tipo de estrutura burguesa familiar como primeiro meio para o bom homem, naturalmente que um punk velho do Bronx pode sê-lo mais sinceramente que ele; desculpe, fica assim! Fico feliz por ter essa consciência, mas ainda sou muito... não sei como definir... para que a primeira imagem não seja a descrita. Não sei se cabe discutir se é inconsciente coletivo misturado a uma contaminação social-midiática a la propaganda do Banco do Brasil, ou podreira pessoal burguesa culpada, mas é, fazer o que.

Só sei que ele fez isso toda a vida, que tal fato me toca quase tanto quanto o conteúdo (o que não é pouco), e que basta para desejar, ardorosamente, que ele tenha sido mesmo um bom homem.
O que quer que isso seja.


Ainda é difícil definir um bom homem!
Que puxa!

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Pesquisei hoje na internet, muito brevemente. Schulz é acusado em biografia não oficial de ser ele mesmo "um Charlie Brown crescido, mas que afogava sua melacolia correndo atrás de mil mulheres". Pois é. Queime esse post stronzo.

Charlie Brown não seria assim. Acho eu que ele continuaria comprando beagles o resto da vida. E isso não é um moralismo, adultério parece mesmo quase orgânico no american way médio do século passado; mas o Charlie, sem a garotinha ruiva, ficaria com os beagles.


Acabo de descobrir que os temas musicais do desenho eram do Henri Mancini (trilhas do Blake Edwards)... legal!
E eu deveria seguir mais o conselho da primeira tirinha aqui...