Panis et Nonsenses... !!!

Divagações, momentos, memórias, delongueadas, poulaineadas, patetices, cinismo, teses de sentido e validade duvidosos, jedaizices, incoerências ambíguas e sem lógica, e supercalifragilistiexpiralidosações em geral! Ou seja, eu... eu acho!!! Constante inconstância exclamativo-interrogativa... acho que isso diz muito e pouco, dependendo da ótica

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Não creio que esse perfil mereça algum esforço de boa descrição... Não que este daqui mereça, mas: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=995235312369024623

Sunday, February 14, 2010

Essa não é, nem de longe, a questão que mais vem me tocando no momento, porque a vida anda atribulada e cheia de emoções e medo. Mas, de algum modo obscuro, ela voltou à minha mente perturbada nesse aprazivel finds/feriado, e em um outro impulso inusitado resolvi retomar esse blog com ela.

Me veio na cabeça a alegria que é assistir um homem sábio e grande em sua área reconhecer alguém tido como menor e esquecido, se mostrar grato ou mesmo humilde admirador dessa figura como a qual os admiradores do grande homem pouco se importam ou mesmo ignoram.
O caso que me trouxe isso é o que vemos no documentário do João Moreira Salles (vou evitar de ficar puxando o saco do filme nesse momento, mas simplesmente acho o máximo!) sobre o pianista Nelson Freire, nosso mineiro quietinho que é referência mundial em interpretações de Rachmaninoff, Gluck, Beethoven e toda essa gente pouco bronzeada que tem tanto valor.

Há um bloco do filme onde o Nerso compartilha conosco, na Tv de sua sala, um vídeo do Erroll Garner tocando doidamente. Garner foi um pianista americano de jazz que tocava um swing muito original maravilhosamente, com uma energia de dar inveja a sambista carioca.
http://www.youtube.com/watch?v=5VhKbE_pf_E&feature=related

Nelson declara sua branda inveja, por não se sentir capaz de improvisar, de tocar com aquela energia, com aquele swing, não consegue comparar sua vida dedicada ao piano àquela VHS onde o o bigodinho malandro do Erroll passeava pelo piano como quem acaba de ter certeza de que a vida é bela e é dos malandros merrmo.
É aquela inveja com brilho nos olhos e sorriso de boca aberta exclamativa, a inveja de fã, que sonha em poder apertar aquelas mãos negras e dizer que queria ter um pouco daquilo por meia hora.

Talvez os puristas mais estritos da música erudita, que não respeitam a música popular e o jazz, queimados em paça pública sejam, não o perdoem. Não acham digno do Nelson, o impassível, o concentrado, os dedos que trazem à vida aqueles monstros imortais reverenciados, se encantar com esse respiro que é o jazz, que é a expressão popular em um momento de plena e reverenciável sofisticação técnica e artistica.
Eu simplesmente acho muito bonito, muito bonito. Um homem com tanta propriedade ver beleza além de sua criação e do seu clube, ser fã de um parente de sangue menos azul e invejar as qualidades que só ele consegue ter.

Isso me lembra uma outra história, contada por um primo de meu pai sobre um amigo dele. Esse sujeito, não sei campo nem nome, é um acadêmico brasileiro mundialmente respeitado. Parece que ele ganha uma boa bolada, todo ano, para dar a aula inaugural e mais algumas palestras em uma universidade norte-americana (ou será que adoto o termo justo, "estadosunidense", à moda Wiki?), uma sueca, e me parece que outra britânica. Portanto, um homem respeitabilíssimo, um erudito. Sabe qual a coisa que mais dá prazer a esse homem na vida, o relaxamento mental dele? Depois dessa maratona cerebral anual muito bem paga, se enfiar na rocinha dele lá no interior de MG, e ficar ouvindo causos dos matutos locais, tomando uma pinguinha enquanto contam histórias daquelas bandas. Eu posso imaginar isso!
A questão não é o fugere urbem (não sei se tenho essa ilusão, e olha que eu sou um caipira ainda meio saudoso em Sampa!), nem a pinga; é o saber reconhecer que se é mais completo, pleno e mais próximo a um sentimento de satisfação com essa vida quando se pode chegar a um extremo de descoberta, voltar ao outro pólo cru e simples, e entender que eles não se anulam, que na realidade é a mesma coisa e ambos necessitam do outro. É ver que, quanto mais se conhece, mais se tem a noção de que já estava tudo lá no começo, em um nível mais simplificado e invisível aos olhos.

Pode ser uma bobagem imensa minha, aliás, há grandes chances de ser. Qualquer um dos dois tópicos, e mesmo a relação entre eles que eu fiz. Mas sinto e creio nisso verdadeiramente, e sempre me comove ver algo do gênero.


Droga, queria rever meu DVD do Nelson Freire, não encosto nele faz meses, mas não acho! Deve ter ficado em Sampa... Ainda bem que tem Youtube nessa vida.
http://www.youtube.com/watch?v=d8ps8ejs52k


{Como sempre, mantendo meu desleixo, ou automatismo, postado de primeira leitura, sem direito a revisões e releituras de estilo. Espero que o texto não esteja muito porco ou pouco estruturado, desculpem.}