Panis et Nonsenses... !!!

Divagações, momentos, memórias, delongueadas, poulaineadas, patetices, cinismo, teses de sentido e validade duvidosos, jedaizices, incoerências ambíguas e sem lógica, e supercalifragilistiexpiralidosações em geral! Ou seja, eu... eu acho!!! Constante inconstância exclamativo-interrogativa... acho que isso diz muito e pouco, dependendo da ótica

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Não creio que esse perfil mereça algum esforço de boa descrição... Não que este daqui mereça, mas: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=995235312369024623

Saturday, September 12, 2009

"Alguma coisa acontece... quando eu cruzo pra Paulista, da Consolação"

As vezes eu me esqueço o quanto a Avenida Paulista é surrealmente bonita, e única. Agora nossa relação vai muito bem mas, nos tempos que detestava Sampa, sempre usei a lembrança ou a presença da Paulista para tentar gostar mais da cidade; como quando você briga ou está com raiva de alguém, e tenta ficar lembrando dos momentos saborosos do convívio, em que toda a chatice e incompreensão pareciam nunca ter existido ("... no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido", sempre me vem o João&Maria), em que compartilhar era uma delícia e tudo na vida parecia valer a pena, incondicionalmente.

Um Cep da lista da Ect, uns 3Km de prédios acortinando a paisagem que só o vão do museu não comeu, um amontoado de surpresas em cada alameda que escorre daqueles semáforos multifaixa malucos, que na verdade também são a Paulista (vai dizer que a alta Augusta, do Cinesesc e do Unibanco, não são também Paulista?). Caminhadas, grandes filmes vistos, um pouco de filme feito e discutido, um argumento de longa, grandes amigos, teatros, a melhor livraria com dragão de madeira num perímetro de 10000Km, corridas dignas de Louvre godardiano, uma igreja meio intrigante, tentativa de militância estudantil, jantares, vívido amor vivido depois fraco amor quebrado, o primeiro Van Gogh, idéias de metrô, deslumbres e tristezas. O marketing-cartão de "coração da América do Sul" soa muito cafona, mas é sentido e engrandece ainda mais. Foi ai que eu aprendi o que era São Paulo, e que eu aprendi a gostar disso, e a me ver anônimo e contente como mais um deles, ou mais um dos caipiras (pero ainda e sempre orgulhoso disso) que se tornava um deles. Não tanto quanto a emoção (provavelmente falsa e ilusória, infelizmente, devo adimitir) romana de "você, de fora, está e é daqui, seja a gente", esse acolhimento fraterno, mas é uma coisa de caipira que eu gosto de sentir, e paradoxalmente, dentro dessa magnitude paulistana de impessoalidade diversa, tenho alguns sabores disso dentro dela, o convite e a acomodação.

Ela pulse e é plenamente a Paulista no dia, no meio da semana, com um maldito sol trincado, mas de preferência um vento que flana pelo seu corredor e faz o vão do Masp parecer um local sagrado cheio de energias e vibrações. Ainda que eu saiba disso, é na alta noite-madrugada, com o vazio relativo de um lugar que não fica um nanosegundo sem gente tem mais de um século, que eu tenho mais prazer em senti-la. Porque estática, porque despojada do que mais se pode associar a ela, sem nenhum canto para entrar, ela ainda consegue ser tudo isso, porque ela é um cristal indesmanchavel, um ente hibernante. O tipo de coisa que, se um meteoro atingir a Terra, a gente torce pra que saia voando em um sólido bloco único, "junto aos restos de catedrais e a tampa da minha Parker 51 prateada que eu nunca mais achei", diria o Verissimo.

A revi desse jeito anteontem, ou melhor, ontem. Uma conversa breve de outros assuntos mais agudos, e o magnetismo do lugar atraindo a atenção para si, alegrando. Uma despedida breve e, novamente solitário, a volta rápida pela avenida: para além dos tapumes, vazia em um escuro quase claro, azul sincero, profundo e denso, entendeu o quanto gosto dela, e me disse "esteja sempre".

Saturday, September 05, 2009

Aria n°2 - esboço de meia hora

Um primeiro dia (pouco) mais calmo em dias. Acordar não tão cedo e me propor a ver um pouco de filme antes de ir pra reunião (e são tantas, e são tantas, o que houve com a vida?) na Eca. Aliás, acabei o filme só depois, é da minha lista pra pesquisa de TCC: "Maradona by Kusturica": claro que o argentino é um imenso ególatra mas, putaquipariu, não lembrava que ele chutou tão bem, mammamia; e olha que futebol não costuma me comover quase nada.
Pra ir à reunião, a eterna espera pelo maldito 7725/10 da Sptrans, uma linha de ônibus dadaísta que nãoo gosta de manter padrões entre seus horários largamente espaçados. Em Sampa eu não sou um ser motorizado, e isso tem me frustrado no limite, quero resolver isso bem em breve... enfim, enfim.

Chega a moça-de-vestido-verde-botas-gnomo-celular-vermelho-com-ligações-tensas, pergunta pelo mesmo ônibus. Troca de comentário descontente semi-sorridente comme d'habitude, ela senta pra resmungar no celular, eu continuo com a mente rasa e esvaziada, procurando alguém mais notável para observar, pensando em segundo plano em uma tira em quadrinhos para se desenhar...
Eu já conhecia a outra menina que chega de vista, do ônibus de volta ou da região do condomínio. E, se sou um péssimo fisionomista e não botaria fé em saber de seu rosto e jeitos, guardo com facilidade elementos como uma mochila mínima bordada do "Festival de Inverno de Campos do Jordão"; adoraria ir no próximo, preciso criar vergonha e dar um jeito. Por mais que eu não goste daquela cidade, más lembranças.
Ela me faz a mesma pergunta da outra moça, desculpeeutambémsóchegueifaz5minutospoisé, agradece e se senta. Na meia-hora seguinte, a pobre moça atrasada me foi um excelente assunto...
Se a mochila era uma boa dica, sua abertura e o maço de partituras tirado pela mão pálida confirmavam a Ecanidade, e o Departamento de Música. Pronto, uma instumentista, ou talvez compositora, regente!
Tentei ler a partitura com minha competência musical limitada e destreinada, uma aria bem clara, pareceu simpática. Folhas com algumas notas a lápis, e uma leitura atenta pelos óculos ovaloides metálicos, lembrando bastante os do Iuri. Olhos cor de azeitona de pote de mercado concentradíssimos, dedos torcendo com uma leveza que ocultava a tensão que não calava.
Os cabelos castanho claros, perdendo na altura dos ombros seu liso confuso em um embrenhado de quem dormiu mais do que podia, começou a se retorcer como vento leve, impossível se notar no cenário do caos, junto ao pescoço e dedos que dedilhavam a própria folha de notas. Um piano de uma oitava sobre o saco plástico.
E me assombrei. Menos de 2 metros e meio dali, passavam ônibus Lapa com cem pessoas dentro, caminhões pesados de tremer a tampa do bueiro, carros de escapamento estourado, pessoas apressadas com seus Mp3 players sem fone (a maior grosseria da pós-modernidade, individual forçadamente compartilhado... faz um Facebook e entra prum BBB da vida, meu caro, não me estorve a paciência matinal!). Centimetros com tudo isso, e o dedilhar era tão harmônico, tão independente, senhor de si, inerte e autosuficiente no meio da guerra nuclear. Uma sala de estar interna. As batidas dos eixos de caminhões começaram a fazer sentido, as teclas me davam aquele som em compasso, vi a música, ouvi a partitura! Sem pedir licença pra menina, entrei naquela bolha, fez sentido, fazia sentido!

Os dedos recolhem o saquinho de partituras e colocam de volta na mochila serrana, medo de entrar no transe e não ver o maldito 7725/10. E quem sou eu pra pensar "eu te aviso quando, pode deixar, continua"?, afinal, também roubei pra mim o transe dela.
Os dedos continuaram se torcendo, aquela tensão contida. Eu sei que é, eu também disfarço fazendo isso, energia saindo pelas extremidades.

O ônibus passou, ela entrou com sua mínima pinta na bochecha e expressão de menina estudiosa, eu também. Tamborilei melodias o dia todo, mesmo e principalmente a dos caminhões da rua. Na falta de um piano, não...?

{
Só completando: ao chegar na Eca me apresentam isso, fascinante, partitura visual material... e só agora, escrevendo (! - "das funções da escrita, capitulo 2: a ordem pessoal e auto-conhecimento") , me cai a ficha da sincronicidade! Tem tudo a ver com o que passei, ainda que brevemente, minutos antes!!!
http://www.youtube.com/watch?v=Ws_R_GxZX2o

http://www.youtube.com/watch?v=GF0-wGbRqEs

Mágico, vida mágica!
}

Hora de dormir, cansaço acumulado é mesmo veneno de workaholic... Foi a sensação desse minuto que ficou de hoje, foi bonito pra mim.
Boa noite!