"Alguma coisa acontece... quando eu cruzo pra Paulista, da Consolação"
As vezes eu me esqueço o quanto a Avenida Paulista é surrealmente bonita, e única. Agora nossa relação vai muito bem mas, nos tempos que detestava Sampa, sempre usei a lembrança ou a presença da Paulista para tentar gostar mais da cidade; como quando você briga ou está com raiva de alguém, e tenta ficar lembrando dos momentos saborosos do convívio, em que toda a chatice e incompreensão pareciam nunca ter existido ("... no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido", sempre me vem o João&Maria), em que compartilhar era uma delícia e tudo na vida parecia valer a pena, incondicionalmente.
Um Cep da lista da Ect, uns 3Km de prédios acortinando a paisagem que só o vão do museu não comeu, um amontoado de surpresas em cada alameda que escorre daqueles semáforos multifaixa malucos, que na verdade também são a Paulista (vai dizer que a alta Augusta, do Cinesesc e do Unibanco, não são também Paulista?). Caminhadas, grandes filmes vistos, um pouco de filme feito e discutido, um argumento de longa, grandes amigos, teatros, a melhor livraria com dragão de madeira num perímetro de 10000Km, corridas dignas de Louvre godardiano, uma igreja meio intrigante, tentativa de militância estudantil, jantares, vívido amor vivido depois fraco amor quebrado, o primeiro Van Gogh, idéias de metrô, deslumbres e tristezas. O marketing-cartão de "coração da América do Sul" soa muito cafona, mas é sentido e engrandece ainda mais. Foi ai que eu aprendi o que era São Paulo, e que eu aprendi a gostar disso, e a me ver anônimo e contente como mais um deles, ou mais um dos caipiras (pero ainda e sempre orgulhoso disso) que se tornava um deles. Não tanto quanto a emoção (provavelmente falsa e ilusória, infelizmente, devo adimitir) romana de "você, de fora, está e é daqui, seja a gente", esse acolhimento fraterno, mas é uma coisa de caipira que eu gosto de sentir, e paradoxalmente, dentro dessa magnitude paulistana de impessoalidade diversa, tenho alguns sabores disso dentro dela, o convite e a acomodação.
Ela pulse e é plenamente a Paulista no dia, no meio da semana, com um maldito sol trincado, mas de preferência um vento que flana pelo seu corredor e faz o vão do Masp parecer um local sagrado cheio de energias e vibrações. Ainda que eu saiba disso, é na alta noite-madrugada, com o vazio relativo de um lugar que não fica um nanosegundo sem gente tem mais de um século, que eu tenho mais prazer em senti-la. Porque estática, porque despojada do que mais se pode associar a ela, sem nenhum canto para entrar, ela ainda consegue ser tudo isso, porque ela é um cristal indesmanchavel, um ente hibernante. O tipo de coisa que, se um meteoro atingir a Terra, a gente torce pra que saia voando em um sólido bloco único, "junto aos restos de catedrais e a tampa da minha Parker 51 prateada que eu nunca mais achei", diria o Verissimo.
A revi desse jeito anteontem, ou melhor, ontem. Uma conversa breve de outros assuntos mais agudos, e o magnetismo do lugar atraindo a atenção para si, alegrando. Uma despedida breve e, novamente solitário, a volta rápida pela avenida: para além dos tapumes, vazia em um escuro quase claro, azul sincero, profundo e denso, entendeu o quanto gosto dela, e me disse "esteja sempre".
As vezes eu me esqueço o quanto a Avenida Paulista é surrealmente bonita, e única. Agora nossa relação vai muito bem mas, nos tempos que detestava Sampa, sempre usei a lembrança ou a presença da Paulista para tentar gostar mais da cidade; como quando você briga ou está com raiva de alguém, e tenta ficar lembrando dos momentos saborosos do convívio, em que toda a chatice e incompreensão pareciam nunca ter existido ("... no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido", sempre me vem o João&Maria), em que compartilhar era uma delícia e tudo na vida parecia valer a pena, incondicionalmente.
Um Cep da lista da Ect, uns 3Km de prédios acortinando a paisagem que só o vão do museu não comeu, um amontoado de surpresas em cada alameda que escorre daqueles semáforos multifaixa malucos, que na verdade também são a Paulista (vai dizer que a alta Augusta, do Cinesesc e do Unibanco, não são também Paulista?). Caminhadas, grandes filmes vistos, um pouco de filme feito e discutido, um argumento de longa, grandes amigos, teatros, a melhor livraria com dragão de madeira num perímetro de 10000Km, corridas dignas de Louvre godardiano, uma igreja meio intrigante, tentativa de militância estudantil, jantares, vívido amor vivido depois fraco amor quebrado, o primeiro Van Gogh, idéias de metrô, deslumbres e tristezas. O marketing-cartão de "coração da América do Sul" soa muito cafona, mas é sentido e engrandece ainda mais. Foi ai que eu aprendi o que era São Paulo, e que eu aprendi a gostar disso, e a me ver anônimo e contente como mais um deles, ou mais um dos caipiras (pero ainda e sempre orgulhoso disso) que se tornava um deles. Não tanto quanto a emoção (provavelmente falsa e ilusória, infelizmente, devo adimitir) romana de "você, de fora, está e é daqui, seja a gente", esse acolhimento fraterno, mas é uma coisa de caipira que eu gosto de sentir, e paradoxalmente, dentro dessa magnitude paulistana de impessoalidade diversa, tenho alguns sabores disso dentro dela, o convite e a acomodação.
Ela pulse e é plenamente a Paulista no dia, no meio da semana, com um maldito sol trincado, mas de preferência um vento que flana pelo seu corredor e faz o vão do Masp parecer um local sagrado cheio de energias e vibrações. Ainda que eu saiba disso, é na alta noite-madrugada, com o vazio relativo de um lugar que não fica um nanosegundo sem gente tem mais de um século, que eu tenho mais prazer em senti-la. Porque estática, porque despojada do que mais se pode associar a ela, sem nenhum canto para entrar, ela ainda consegue ser tudo isso, porque ela é um cristal indesmanchavel, um ente hibernante. O tipo de coisa que, se um meteoro atingir a Terra, a gente torce pra que saia voando em um sólido bloco único, "junto aos restos de catedrais e a tampa da minha Parker 51 prateada que eu nunca mais achei", diria o Verissimo.
A revi desse jeito anteontem, ou melhor, ontem. Uma conversa breve de outros assuntos mais agudos, e o magnetismo do lugar atraindo a atenção para si, alegrando. Uma despedida breve e, novamente solitário, a volta rápida pela avenida: para além dos tapumes, vazia em um escuro quase claro, azul sincero, profundo e denso, entendeu o quanto gosto dela, e me disse "esteja sempre".