Peculiaridades irônicas surreais itatibenses...
Não sei qual é o padrão médio de vocês de evento-passado-e-já-antigo, mas para mim o Natal ainda está bem quente. Assim, após essa dupla de orações emboladoras, registro um pouco do mais puro e “lerrítimo” folclore de Itatiba (segundo a Wikipédia, "from Tupi Guarani 'too much rock' ") , aliado à notável data. Acho que vão gostar da pitorescidade (desconheço essa palavra e evito a fadiga de procurar, ela acaba de me surgir... fica o neologismo ou o erro grosseiro)...
Espero que tenha um gosto legal para os que aqui residem, e intrigue os forasteiros, iniciando-os ao itatibismo.
Nas amáveis terras itatibenses, onde todo ser universal tem algum parente ou conhecido, de onde partem seres que já passaram ou habitaram toda espécie de quebrada e vilarejo dos sete mares (naturalmente, me refiro às terras que bóiam entre eles), onde o bizarro é mais belo e o inimaginável se mostra possível e irônico, temos uma peculiaridade curiosa todos os meses de Dezembro.
O Sr. Luisão Ordine, e o “ão” se refere à sua moral e simpatia (fisicamente, é menor que eu), é o mais tradicional agente funerário da localidade. Uma pessoa amabilíssima, de semblante alegre e receptivo. Acaba de reformar sua “agência”, macabra e ironicíssima (ladrilhos vermelhos e pretos, cruzes tortas gigantes, imagens, gárgulas, ‘porcelanato’ reluzente no chão... indescritível, só vendo!) e, com sua VW Kombi, o pão de forma mais consumido pelo frotista e feirante brasileiro desde 1957, distribui e recolhe os convites de enterro pelas paredes da cidade. Aliás, mais uma peculiaridade local: sabe-se dos mortos recentes por pequenas tabuletas de madeira e vidro colocadas em pontos estratégicos da cidade, com atualizações diárias.
O grande gosto do Sr. Luisão é se vestir de Papai Noel em Dezembro. Sim, o agente funerário vira São Nicolau!!! E mais: adaptou um amável Jeep Willis para trenó motorizado, com direito a caixas de som que tocam música natalinas, glitter, pompons tematizados, estrutura vermelha (eu sei que é um Jeep porque conhecia da minha infância, hoje aquele trambolhão é irreconhecível, e deve ser bem complicado manobrar), trono, renas (com elas, o Jeep duplicou de comprimento) e alguns assistentes... para, com essa parafernalha gigante toda, ir pelas ruas jogando balas para as crianças! Sim, balançando seu sino metálico enquanto os ajudantes lançam quilos, milhões de Buzinas e Frumelos (ta, to forçando, Frumelo é muito cara!) para a criançada (na verdade, todo mundo pega!) nas calçadas! É surreal ouvir “Jingle Bells” se aproximando e, ao abrir a janela, avistar a nave vermelha com a criançada atrás, fazendo uma bolsa marsupial com o final da camiseta, para armazenar os doces. E, naturalmente, eu também largo o que estou fazendo e vou para a calçada pegar a minha parte!
Não acham absolutamente fantástico? Eu pretendo pegar as balas do “papa-defunto” na calçada o resto da vida!
Sempre que a banda em que toco se apresenta nos finais de ano, ele também aparece. Enquanto tentamos ler as partituras de “We wish you a marry christmas” ou “Então é Natal”, somos bombardeados sem dó, enquanto ele acompanha a percussão com o sino. Quem se incomoda um pouco é o pessoal das tubas ou bombardinos, quando entra bala no instrumento, ou qualquer outro quando cai na cabeça, olho, ou demais periféricos não muito relevantes. Como eu tenho cabeça dura e meu clarinete tem a campana para baixo, maravilha! :-D
Na missa anterior à do Natal, em relação a isso, uma cena surreal que presenciei. Estava na capela do Asilo, sábado, uns dez minutos antes do horário da celebração. Annnddd, suddenly, o sino! Ele me entra na capela, que já é bastante curiosa (séria e simples, com o interior cinza-amarelado), tocando seu enorme sino de metal, que é parecido com o que a D. Ester, servente da minha escola do ensino fundamental, anunciava o intervalo das aulas: cabo curvo de madeira envernizada, campana amarelada pouco menor que uma lata de Leite Ninho, som pouco reverberante e não muito agudo. Puxava generosos punhados de balas do seu multi-quilogramárico bolsão de veludo e, com o sorriso lutando com a barba postiça cacheada e a maquiagem branca na pele, andava até o final da capela e jogava para o alto, para todos os lados, o monte de pedrinhas gostosas. Repetiu o trajeto umas três vezes, abraçou uma senhorinha muito alegre. E, muito marotão, foi até o altar e deixou umas balinhas sobre esse (depois retiradas...), além de pegar o microfone do padre e tascar um talvez falsamente tímido mas espirituoso “Ho ho ho, Feliz Natal”!!! Até a freira meio mal humorada, que deixava um tanto claro que ele precisava ir embora por causa da já instalada bagunça (demoraram bastante para se calar depois disso!) e o horário, não continha com firmeza que estava achando aquilo tudo bastante divertido.
Uma ocasião que o já surreal me surpreendeu! Que delícia! E que figura!
Minha prima e mestra Jedi, colhedora de histórias que é, foi um dia à Funerária Ordine (carinhosamente chamada de “FÓ” por nós, graças à sigla colocada no alto do bizarríssimo prédio) para bater um papão com o Luisão! E, muito além de causos impagáveis, a cena: em meio a um mostruário de caixões funerários no chão, as duas renas, cheias de brilhantes e faixas coloridas, sorridentes com seus narizes vermelhos e estáticas em sua pose galopante, indagando o visitante!!! Inacreditável, só podia ser aqui!
Pretendo, até o final desse ano, escrever um documentário sobre toda essa fantástica maluquice!!! Espero que julguem adequado... eu me apaixonei pela história! E o seu Luisão merece homenagens!
(P.S.: Sentiram a ironia? Jeep, militar, balas, balas? Hã, hã, hã?! Genial, esse mundo é genial!)
Não sei qual é o padrão médio de vocês de evento-passado-e-já-antigo, mas para mim o Natal ainda está bem quente. Assim, após essa dupla de orações emboladoras, registro um pouco do mais puro e “lerrítimo” folclore de Itatiba (segundo a Wikipédia, "from Tupi Guarani 'too much rock' ") , aliado à notável data. Acho que vão gostar da pitorescidade (desconheço essa palavra e evito a fadiga de procurar, ela acaba de me surgir... fica o neologismo ou o erro grosseiro)...
Espero que tenha um gosto legal para os que aqui residem, e intrigue os forasteiros, iniciando-os ao itatibismo.
Nas amáveis terras itatibenses, onde todo ser universal tem algum parente ou conhecido, de onde partem seres que já passaram ou habitaram toda espécie de quebrada e vilarejo dos sete mares (naturalmente, me refiro às terras que bóiam entre eles), onde o bizarro é mais belo e o inimaginável se mostra possível e irônico, temos uma peculiaridade curiosa todos os meses de Dezembro.
O Sr. Luisão Ordine, e o “ão” se refere à sua moral e simpatia (fisicamente, é menor que eu), é o mais tradicional agente funerário da localidade. Uma pessoa amabilíssima, de semblante alegre e receptivo. Acaba de reformar sua “agência”, macabra e ironicíssima (ladrilhos vermelhos e pretos, cruzes tortas gigantes, imagens, gárgulas, ‘porcelanato’ reluzente no chão... indescritível, só vendo!) e, com sua VW Kombi, o pão de forma mais consumido pelo frotista e feirante brasileiro desde 1957, distribui e recolhe os convites de enterro pelas paredes da cidade. Aliás, mais uma peculiaridade local: sabe-se dos mortos recentes por pequenas tabuletas de madeira e vidro colocadas em pontos estratégicos da cidade, com atualizações diárias.
O grande gosto do Sr. Luisão é se vestir de Papai Noel em Dezembro. Sim, o agente funerário vira São Nicolau!!! E mais: adaptou um amável Jeep Willis para trenó motorizado, com direito a caixas de som que tocam música natalinas, glitter, pompons tematizados, estrutura vermelha (eu sei que é um Jeep porque conhecia da minha infância, hoje aquele trambolhão é irreconhecível, e deve ser bem complicado manobrar), trono, renas (com elas, o Jeep duplicou de comprimento) e alguns assistentes... para, com essa parafernalha gigante toda, ir pelas ruas jogando balas para as crianças! Sim, balançando seu sino metálico enquanto os ajudantes lançam quilos, milhões de Buzinas e Frumelos (ta, to forçando, Frumelo é muito cara!) para a criançada (na verdade, todo mundo pega!) nas calçadas! É surreal ouvir “Jingle Bells” se aproximando e, ao abrir a janela, avistar a nave vermelha com a criançada atrás, fazendo uma bolsa marsupial com o final da camiseta, para armazenar os doces. E, naturalmente, eu também largo o que estou fazendo e vou para a calçada pegar a minha parte!
Não acham absolutamente fantástico? Eu pretendo pegar as balas do “papa-defunto” na calçada o resto da vida!
Sempre que a banda em que toco se apresenta nos finais de ano, ele também aparece. Enquanto tentamos ler as partituras de “We wish you a marry christmas” ou “Então é Natal”, somos bombardeados sem dó, enquanto ele acompanha a percussão com o sino. Quem se incomoda um pouco é o pessoal das tubas ou bombardinos, quando entra bala no instrumento, ou qualquer outro quando cai na cabeça, olho, ou demais periféricos não muito relevantes. Como eu tenho cabeça dura e meu clarinete tem a campana para baixo, maravilha! :-D
Na missa anterior à do Natal, em relação a isso, uma cena surreal que presenciei. Estava na capela do Asilo, sábado, uns dez minutos antes do horário da celebração. Annnddd, suddenly, o sino! Ele me entra na capela, que já é bastante curiosa (séria e simples, com o interior cinza-amarelado), tocando seu enorme sino de metal, que é parecido com o que a D. Ester, servente da minha escola do ensino fundamental, anunciava o intervalo das aulas: cabo curvo de madeira envernizada, campana amarelada pouco menor que uma lata de Leite Ninho, som pouco reverberante e não muito agudo. Puxava generosos punhados de balas do seu multi-quilogramárico bolsão de veludo e, com o sorriso lutando com a barba postiça cacheada e a maquiagem branca na pele, andava até o final da capela e jogava para o alto, para todos os lados, o monte de pedrinhas gostosas. Repetiu o trajeto umas três vezes, abraçou uma senhorinha muito alegre. E, muito marotão, foi até o altar e deixou umas balinhas sobre esse (depois retiradas...), além de pegar o microfone do padre e tascar um talvez falsamente tímido mas espirituoso “Ho ho ho, Feliz Natal”!!! Até a freira meio mal humorada, que deixava um tanto claro que ele precisava ir embora por causa da já instalada bagunça (demoraram bastante para se calar depois disso!) e o horário, não continha com firmeza que estava achando aquilo tudo bastante divertido.
Uma ocasião que o já surreal me surpreendeu! Que delícia! E que figura!
Minha prima e mestra Jedi, colhedora de histórias que é, foi um dia à Funerária Ordine (carinhosamente chamada de “FÓ” por nós, graças à sigla colocada no alto do bizarríssimo prédio) para bater um papão com o Luisão! E, muito além de causos impagáveis, a cena: em meio a um mostruário de caixões funerários no chão, as duas renas, cheias de brilhantes e faixas coloridas, sorridentes com seus narizes vermelhos e estáticas em sua pose galopante, indagando o visitante!!! Inacreditável, só podia ser aqui!
Pretendo, até o final desse ano, escrever um documentário sobre toda essa fantástica maluquice!!! Espero que julguem adequado... eu me apaixonei pela história! E o seu Luisão merece homenagens!
(P.S.: Sentiram a ironia? Jeep, militar, balas, balas? Hã, hã, hã?! Genial, esse mundo é genial!)