Panis et Nonsenses... !!!

Divagações, momentos, memórias, delongueadas, poulaineadas, patetices, cinismo, teses de sentido e validade duvidosos, jedaizices, incoerências ambíguas e sem lógica, e supercalifragilistiexpiralidosações em geral! Ou seja, eu... eu acho!!! Constante inconstância exclamativo-interrogativa... acho que isso diz muito e pouco, dependendo da ótica

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Não creio que esse perfil mereça algum esforço de boa descrição... Não que este daqui mereça, mas: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=995235312369024623

Saturday, December 09, 2006

Ensaio ("... sobre a..." ops, hoje não!) da retomada!

Saudações! Sim, sim, vai-se um intenso semestre acadêmico, infelizmente não tão intenso literariamente, e volta o "Panis et Nonsenses!". Peço desculpas aos fiéis e caros amigos visitantes, mas não teve jeito mesmo! E isso me fez falta, e como!

Serei breve hoje, ao menos no texto "original"! ;)

Bom, férias quase chegando, e resolvi me dar ao luxo de publicar uma prévia de minha retomada!
Trata-se de uma crônica baseada no assunto brevemente abordado (e com promessa de desenvolvimento, agora cumprida, e comprida!) no penúltimo e caótico post, a beleza e a alegria trazida por certos tipos de melancolia!
Essa crônica já tem vários meses, já ganhou versão cortada graças a certos concursos literários que misereiam espaço, e agora segue aqui a integral! Espero que gostem!
Vem bem à calhar nesses tempos de chuva, gripes, capuccinos, retomada de discos enconstados e refelxões...
Ah, claro: não posso negar, é auto-biográfica, sim sim!!!
Ciao!

P.S.: Ao lado, algo que René Magritte fez, prevendo, com décadas de antecedência, a minha irremovível foto de orkut... hehehe!
* * *

A melancolia, e o alegre ridículo
Por Gustavo Fattori

Preferira ficar em casa naquela úmida noite de domingo, sozinho. Acompanhado apenas pela garoa fina, ficou alguns minutos em frente à estante rechonchuda, caminhando com calma com os dedos pelas lombadas plásticas até topar com a fina caixinha desejada, parecida com tantas outras dali. Atravessou a grande sala com as meias flutuando dentro das sandálias de tiras, abriu o aparelho e colocou o CD, batendo com muito estilo no botão de execução com o cotovelo. Formando uma viva exclamção com os olhos, pegou a caneca de porcelana e, assim que o chá de hortelã bem quente tocou sua garganta, as primeiras notas saíram das caixas acústicas.
Era o Quinteto de Ástor Piazzolla, naturalmente incluído o próprio, e a primeira faixa, “Adiós Nonino”. E, junto, a garoa ganhava energia e a água batia nos vidros com força crescente, formava sons que, se não eram exatamente no compasso sugerido pelo disco, serviam como um complemento interessante.
Essa composição sempre lhe resgatava uma das mais complexas sensações humanas que já sentira: a da ‘melancolia feliz’!
A tristeza dispersa no ar pelo pequeno fole e pelas cordas do violino era totalmente compreensível e sentida, havia muita dor e saudosismo naqueles acordes pontuados com tanto sentimento.
Mas, de modo curioso, brotava no ouvinte um sorriso suave. Não só pelo prazer musical das belas composição e execução, mas também porque aquela melancolia, que se mostrava tão autêntica e profunda, gerava e pareava com uma beleza de igual tamanho. As memórias ali representadas com tanta calidez e intensidade, a dor confidenciada, que não se sabe se era recente ou de recordações, são emoções que, em tal formato, não podem gerar compaixão... Elas trazem a felicidade de um verdadeiro momento apoteótico da condição humana, o notar do poder de tal condição gerar algo tão avassalador como tal sentimento. Ou, mesmo que a canção desperte dores pessoais do ouvinte e puxe lembranças com a evocação da brilhante melodia, ao ouvir tal representação anacronicamente tão corpulenta e delicada, esse não se sentirá profundamente abalado como em ocasiões passadas, mas talvez amparado pela representação. Que é também uma forma de associação na memória pessoal.
Enquanto pensava nisso, e após apoiar novamente a caneca, começara a dançar ralentando, ainda com o sorriso na face e o olhar perdido no chão. O roupão acinzentado sobre o pijama invernal fazia desenhos repuxantes com seus vincos conforme os movimentos do corpo, arrastando o cordão da cintura pelo tapete felpudo. Os pés desajeitados se alternavam, os braços ondulantes regiam em harmonia.
Num giro, pousou o olhar nas prateleiras ao lado do aparelho de som e diminuiu seu ritmo. Lá estavam, aleatoriamente dispostos em quantidade, os porta-retratos da família. Antepassados nunca conhecidos, de diversos sobrenomes e gerações, alguns de outro continente e idioma, que encaravam a câmera com desconfiança. Outros eram mais próximos, porém também já falecidos, em suas poses sépia, contrastando com as pequenas molduras contendo a atual formação familiar. Eram ocasiões de reunião, matrimônios, natais, os rostos sempre próximos e com expressão divertida. Uns causando estranheza por usar roupas e penteados curiosos, ou pelo simples fato de possuir cabelo. Uma pequena galeria temporal.
Parou de dançar e, recorrendo a um gole da caneca ainda fumegante, notou o contraste e relações entre seu pensamento, a música e aquela saudosa coleção de imagens aprisionadas em compactas armações de madeira. Dezenas de olhos por detrás dos pequenos retângulos de vidro o encaravam intensamente; teve a certeza de que todos pensavam e sentiam exatamente o mesmo. A chuva continuava, seu cheiro fresco invadindo a casa.
Mas o sorriso sincero de uma fotografia do canto da prateleira, um retrato de si mesmo, mudou a situação... Ao fixá-la, após um segundo de dúvida, deu um outro grande sorriso que fazia da fotografia um pequeno espelho: todos aqueles olhos acompanhavam a sua dança!
Esqueceu toda a metafísica da melancolia e da felicidade e encarou a todos de outro modo. Aqueles olhares alegres, intrigados, as bocas abertas e as mãos gesticulando... eram todas reações à ridícula cena de seu roupão e pijamas rodopiando pela sala! Viu, satisfeito, seu rosto irônico num reflexo do escuro vidro gotejado. Ergueu o volume, cortejou as prateleiras com respeito sarcástico e continuou seus graciosos passos desajeitados, num espasmo de gargalhada.

8 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Blog do Gus está de volta!!! ê!!!!
Tudo bem Gus?!
Hahaha .. adorei o q escreveu!!!
Consegui ver a sala, vc , o som... aquela parte de cima da sua casa, na verdade, com seus quadrinhos! rs !Depois a egnte conversa mais!
Té mais tarde Gus!!! beijoo!!

Sunday, December 10, 2006 1:34:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Pra variar estou passando por um daqueles momentos difíceis.... mas tenho que dizer que ler teus textos e saber que jovens como você existem... bem, isso me dá sensação de oásis!!!!!
THANKS!!!!!!
Carol (missdoubtfire)

Sunday, December 10, 2006 5:20:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Adorei o texto!
Muito bom, bem cinematográfico!
A chuva caindo....
que belo!
beijos! escreva mais textos assim! ^^

Sunday, December 10, 2006 6:19:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

hahaha que doidice
eu que escrevi o comentário acima, tá?
o blogger que zoou meu nome!

Sunday, December 10, 2006 6:20:00 PM  
Blogger LZ said...

a melancolia,
doce sentimento que se instala, diurno ou notívago.
limiar de uma tristeza sem nome,
limiar de uma alegria também sem nome.
estado de espírito, de corpo, de mente.
vontade de estar, não de ser.
estado indefinido,
primordialmente.
meio-termo entre dois pólos.
como um dia nublado...

...de muito calor.

à melancolia,
que a nós corroe, e simultaneamente nos amortece ante
certas coisas que nem sempre queremos sentir-ou-ver.


adorei sua crônica, Gustavim! ;)

Monday, December 11, 2006 11:16:00 AM  
Anonymous Anonymous said...

OI, legal o blog ter voltado, podia permancere além das férias, hein? Porque também é preciso viver.

Ah, agora sim a crônica terá um público à altura, vamos combinar que o JI em que ela saiu não merecia. E imagina quantas Mentirinhas não a adoraram, como tapete de suas produções artísticas? É o preço...

Abraço,
Iuri

Monday, December 11, 2006 7:44:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Cá estou!
E estou inebriado com essa crônica!
Eu sou um dos seres humanos que eu conheço que mais tem desses momentos de "melancolia feliz"! ^^

Ah, desencava teus textos não publicados [todo escritor têm uma gaveta cheia deles!] e atualiza mais constantemente! Pelo bem geral dos TCDCMF - Tomadores de Chá em Dias de Chuva Melancolicamente Felizes!

Aliás, peço tua permissão pra postar uma versão do teu texto de acabei por escrever instantaneamente após a leitura!
Visitar-te aguça a criatividade e amplia os horizontes! =D

Felicidades, meu caro! Forte abraço!

Monday, December 11, 2006 11:57:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Gustavo! Aqui é a vizinha!
Como é a primeira vez que eu deixo uma mensagem, embora já faça um tempo considerável que eu passe por aqui, vou primeiramente falar que admiro bastante as coisas que você escreve! Interessei-me pelo blog quando li o seu perfil no orkut... Acabei passando aqui e gostei das coisas que li.
Estou realmente contente que você tenha voltado a atualizá-lo!! Ah, e a crônica é muito boa, gostei bastante dela.
Bom, é isso!
Até Mais, e Obrigado Pelo Aviso! =]

Wednesday, December 13, 2006 3:32:00 AM  

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